04 novembro 2007

Realismo utópico

Quem se refere aos utópicos e as suas utopias, costuma usar frases que encerram certa condescendência para aqueles que, ingenuamente, crem em elas. Afinal de contas - dizem -todos sabemos que estam enganados porque uma utopia é irrealizável por definição.

Quem critica aos que crem em utopias, ampara-se em um hipotético realismo "pragmático" que, segundo eles, faz que as cousas dem certas. O que nunca dizem é que "dam certas" só para os mais fortes, nem que o seu realismo consiste em uma guerra de todos contra todos na que só os mais fortes sobrevivem. Em eles subjaze uma imagem da justiça com balança e espada, sim, mas com uma espada muito grande e uma balança desequilibrada.

As utopias, todas sem excepção, dam em descrever um mundo melhor. Um mundo no que reinam a paz, a harmonia, a justiça social e a concórdia como solução para todos os conflitos. Esse mundo está, invariavelmente, no futuro. É um mundo que ainda não existe porque ainda não chegou. O futuro por si mesmo não faz a utopia, mas também não a nega: não diz que não seja possível.

Os que dizem que não é possível são os realistas, que vivem no presente e que, a cada passo que dam, ficam já no seu passado. Se afrontamos o futuro desde a perspectiva "realista" chegaremos a ele imediatamente e o reconheceremos ao momento simplesmente porque já o vimos antes.
Isso não merece chamar-se futuro.

O futuro nada dá e nada nega. Polo tanto um futuro melhor só se pode construir com uma utopia.

2 comentarios:

Anónimo dixo...

Cómo me gusta que pienses así! Tantas veces siente uno esa condescendencia! Se pretende partir siempre de los mismos paradigmas ´prácticos´ para que nada cambie, y eso es justo lo que hay que revisar.

Xurxo dixo...

Exactamente.
"Prático" foi o nazismo para sacar á Alemanha da crise económica e "prático" foi Franco para acabar com os distúrbios nas ruas.
As consequências da sua "praticidade" viram-se a curto prazo e muito directamente por parte da população, e por isso imediatamente se entenderam como "práticas" aberrantes.
O modelo de globalização económica que estamos a sofrer tem consequências genocidas, mas é prática para as economias dos países mais poderosos do mundo.